terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Da tragédia à alegria - A parábola do rei alegre




Há muitos séculos atrás, o Rei de um país longínquo decidiu nas festas de seus setenta e cinco anos de idade escolher um sucessor pois não tinha filhos nem parentes próximos.

O Rei convocou para a Corte os seus sete melhores cavaleiros, cujas legendas eram grifadas pela bravura e pela lealdade. Reunindo-os à sua volta o soberano anunciou uma competição, a mais nobre de todas. Seria seu sucessor seria aquele que conseguisse trazer a Alegria à sua presença. Findo o anúncio, deu um prazo de cinco anos para a realização da tarefa quando então decidiria qual cavaleiro seria honrado pelo mérito.

O Primeiro Cavaleiro concluiu que a Alegria deveria estar longe. Atravessou fronteiras e mares, enfrentou inimigos e monstros, dormiu em cavernas e percorreu lugares não habitados. Cansado, retornou de mãos vazias para o reinado. Na sua viagem colheu apenas afrustração.

O Segundo Cavaleiro suspeitou que o povo do reinado teria roubado esta misteriosa Alegria. Perseguiu homens e mulheres das aldeias vizinhas até ser obrigado um dia a enfrentar a fúria e a revolta dos camponeses. Preso, amarrado e puxado como animal através das vielas retornou ao Rei com uma única colheita, a humilhação.

O Terceiro Cavaleiro interpretou a convocação do Rei como um ardil para testar sua lealdade e força. Armou-se até os dentes, intensificou seu treinamento militar e permaneceu atento ao inesperado durante dias e anos a fio. Todo ruído era motivo de alarme e até mesmo os cantos dos pássaros passaram a assustar e provocar insônias. Findo o prazo da busca e fisicamente enfraquecido, o Cavaleiro conseguiu colher apenas o medo.

O Quarto Cavaleiro entendeu que a Alegria era algo que poderia ser comprado. Um dia encontrou nas suas andanças um esperto mercador que lhe prometeu vender a Alegria em troca da fortuna do Cavaleiro. Decidido a ser o sucessor do Rei ele fechou o negócio com o sabido viajante. Numa noite de lua nova à beira de uma estrada deserta, no dia e hora marcada, entregou ao mercador o dinheiro recolhido. Em troca, recebeu um pequeno cofre metálico que, ao abrir, mais tarde, à luz de um candeeiro, descobriu estar no lugar da esperada Alegria apenas um pacote de feno. A sua colheita foi a ilusão e a miséria.

O Quinto Cavaleiro achou o pedido do Rei um absurdo e imaginou que ele  estava ficando insano ao propor tal desafio. Decidiu, então, que pelo bem do Reinado seria justo manipular a situação de modo a ser escolhido como futuro rei. Inventou uma história sobre um encontro com os anjos alegres do Céu que lhe teriam assegurado ser ele o legítimo sucessor real. Pagou algumas testemunhas falsas e veio à presença do Rei. Felizmente, na hora do encontro marcado alguém que tinha assistido escondido à farsa denunciou o golpe do Cavaleiro. Preso, ele colheu apenas avergonha.

O Sexto Cavaleiro interpretou a demanda do Rei como uma “missão impossível” pois tinha sido treinado para enfrentar exércitos e dragões e não a Alegria. Constrangido e impotente recolheu-se à sua casa e, alí, permaneceu durante todo o tempo até o esgotamento do prazo de cinco anos. Sua única colheita foi a tristeza.

O Sétimo Cavaleiro ficou intrigado e pensativo com o desafio. Indagava com seus botões porque um soberano que tinha colhido tantas vitórias necessitava, nesta altura de sua vida, enviar seus melhores cavaleiros à procura desta enigmática Alegria. Atravessou dias, meses e anos tentando resolver o enigma até que cansado e sem mais esperanças desistiu de pensar no assunto. Neste momento de abandono percebeu, porém, um pássaro-viajante de plumas amarelas pousando na janela de seu quarto. O pássaro o fitava como se compreendesse seu abandono. O Cavaleiro admirava o pássaro descobrindo no corpo esguio e nas robustas patas do viajante algo em comum com ele, o Cavaleiro. De repente, o pássaro toma vôo. Seu abrir de asas despertou no Cavaleiro uma emoção de liberdade que não tinha nada a ver nem com o passado, nem com o futuro, mas apenas com a intensidade daquele instante. As plumas amarelas se confundiam com os raios da aurora, dissolvendo os seus desejos por perguntas e respostas.

Uma intuição então lhe chegou como um raio luminoso. Entendeu subitamente que atrás da demanda do Rei pela Alegria brotava uma verdade sutil e comunicativa que se bastava pela imagem refletida naquele momento. A pergunta do Rei, compreendeu, era apenas o reflexo luminoso de uma vida: sem mais ilusões ou esperanças, sem mais passado ou futuro. Uma vida expressa pelas asas libertas de um pássaro ou apenas na contemplação silenciosa e intensa de um instante. Este Sétimo Cavaleiro colheu, assim, a sabedoria sendo escolhido sucessor pelo Rei.

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